sexta-feira, 3 de junho de 2011

Quem são os adultos da EJA

A realidade dos jovens e adultos, principalmente os adultos nas classes de alfabetização na EJA, é a de exclusão. E as suas histórias sobre o que os impossibilitou de estudar na infância são muito similares: ajudar em casa e/ou contribuir financeiramente com o sustento da família. A maioria desses sujeitos são marcados pelo trabalho infantil, as meninas principalmente, que não ajudavam com trabalho remunerado, tinham o dever de fazer as tarefas de casa e cuidar dos irmãos mais novos, pois os pais trabalhavam. Armellini (1993), evidencia que:  
A história da exclusão social se repete na história da escolarização dos adultos analfabetos. Não permaneceram na escola por motivos sócio-econômicos e culturais, ou seja, necessidade de trabalhar e contribuir para o sustento da família, assumir o trabalho doméstico, ajudar a cuidar dos irmãos mais jovens ou tornar-se ‘arrimo’ da família, desistindo de estudar em favor dos irmãos mais moços, ou porque os pais não achavam necessário o estudo, especialmente para as mulheres. (p. 30)

            A partir da experiência através do estágio que realizei esse semestre, percebi também que é muito comum os adultos que foram excluídos da escola por não serem ditos “normais”, como os que possuem dificuldade de aprendizagem.
            O caso de dona Benta é similar, mas o proibição veio de uma visão machista do pai que temia as cartas de amor com os rapazes. Ao tornar-se adulta se dedicou a família e a casa, e com 85 anos que voltou a estudar. Isso nos remete ao questionamento de quantas mulheres estão na EJA e têm marido e filhos para cuidar, que dividem seu tempo ao lar, trabalho e estudos. Isso quando não acontecem imprevistos no dia-a-dia. Então a questão de retornar a escola, apesar do seu formato específico para alunos adultos, é uma decisão que não depende apenas de esforço, mas de condições para conseguir estar na sala de aula.

Na vida do adulto analfabeto, tão limitada pelos baixos salários ou renda instável, os compromissos de sustento e cuidado da família terminam por absorver todos os recursos pessoais. A falta de dinheiro para o transporte, a doença de um filho, o nascimento de um neto, novas oportunidades de trabalho e de remuneração complementar, mudança de residência, podem constituir sérios obstáculos para a permanência do adulto na classe de alfabetização. (ARMELLINI, 1993, p. 30)

            Sem dúvida, a história de vida da dona Benta é de superação e persistência. E ao ser lida ou ouvida pelos alunos da classe de EJA, ao qual realizei minha prática pedagógica, os motivou mais ainda. Mas nós professoras e professores temos que ter bem claro que não depende apenas da vontade dos sujeitos, mas de uma série de fatores que possibilitem a ida a escola, a construção do conhecimento e a conquista dos objetivos destes alunos.

REFERÊNCIA:

ARMELLINI, Neusa Junqueira, ET. Alli. (orgs.) Alfabetização de adultos: recuperando a totalidade para reconstruir a especificidade. Porto Alegre: Editora da UFRGS, Edições EST, 1993. p. 25-53. (Cap. III).

GERAL. Nunca é tarde: A lição de dona Benta. In: Zero Hora, 26 de abril de 2011, p. 31.


Camila Chagas

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