domingo, 29 de maio de 2011

Pergunta sem Resposta

SE NÃO FALTAM ALUNOS - 58 MILHÕES DE BRASILEIROS COM MAIS DE 18 ANOS NÃO TEM O ENSINO FUNDAMENTAL - , POR QUE AS MATRÍCULAS NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS (EJA) CAÍRAM 15% DESDE 2007?

                                                                                                                                Aline Mello

sábado, 21 de maio de 2011

EJA - Educação de Jovens e Adultos


EJA - Educação de jovens e adultos. Fotos: CANINDE SOARES, GILVAN BARRETO, LU SOARES, LUIS MORAES, MARCUS ANTONIUS, P.O. NETO, ROGERIO ALBUQUERQUE, TATIANA REISEJA - Educação de jovens e adultos. Fotos: CANINDE SOARES, GILVAN BARRETO, LU SOARES, LUIS MORAES, MARCUS ANTONIUS, P.O. NETO, ROGERIO ALBUQUERQUE, TATIANA REISEJA - Educação de jovens e adultos. Fotos: CANINDE SOARES, GILVAN BARRETO, LU SOARES, LUIS MORAES, MARCUS ANTONIUS, P.O. NETO, ROGERIO ALBUQUERQUE, TATIANA REISEJA - Educação de jovens e adultos. Fotos: CANINDE SOARES, GILVAN BARRETO, LU SOARES, LUIS MORAES, MARCUS ANTONIUS, P.O. NETO, ROGERIO ALBUQUERQUE, TATIANA REISEJA - Educação de jovens e adultos. Fotos: CANINDE SOARES, GILVAN BARRETO, LU SOARES, LUIS MORAES, MARCUS ANTONIUS, P.O. NETO, ROGERIO ALBUQUERQUE, TATIANA REISEJA - Educação de jovens e adultos. Fotos: CANINDE SOARES, GILVAN BARRETO, LU SOARES, LUIS MORAES, MARCUS ANTONIUS, P.O. NETO, ROGERIO ALBUQUERQUE, TATIANA REISEJA - Educação de jovens e adultos. Fotos: CANINDE SOARES, GILVAN BARRETO, LU SOARES, LUIS MORAES, MARCUS ANTONIUS, P.O. NETO, ROGERIO ALBUQUERQUE, TATIANA REISEJA - Educação de jovens e adultos. Fotos: CANINDE SOARES, GILVAN BARRETO, LU SOARES, LUIS MORAES, MARCUS ANTONIUS, P.O. NETO, ROGERIO ALBUQUERQUE, TATIANA REISEJA - Educação de jovens e adultos. Fotos: CANINDE SOARES, GILVAN BARRETO, LU SOARES, LUIS MORAES, MARCUS ANTONIUS, P.O. NETO, ROGERIO ALBUQUERQUE, TATIANA REISEJA - Educação de jovens e adultos. Fotos: CANINDE SOARES, GILVAN BARRETO, LU SOARES, LUIS MORAES, MARCUS ANTONIUS, P.O. NETO, ROGERIO ALBUQUERQUE, TATIANA REISEJA - Educação de jovens e adultos. Fotos: CANINDE SOARES, GILVAN BARRETO, LU SOARES, LUIS MORAES, MARCUS ANTONIUS, P.O. NETO, ROGERIO ALBUQUERQUE, TATIANA REISEJA - Educação de jovens e adultos. Fotos: CANINDE SOARES, GILVAN BARRETO, LU SOARES, LUIS MORAES, MARCUS ANTONIUS, P.O. NETO, ROGERIO ALBUQUERQUE, TATIANA REISEJA - Educação de jovens e adultos. Fotos: CANINDE SOARES, GILVAN BARRETO, LU SOARES, LUIS MORAES, MARCUS ANTONIUS, P.O. NETO, ROGERIO ALBUQUERQUE, TATIANA REISEJA - Educação de jovens e adultos. Fotos: CANINDE SOARES, GILVAN BARRETO, LU SOARES, LUIS MORAES, MARCUS ANTONIUS, P.O. NETO, ROGERIO ALBUQUERQUE, TATIANA REISEJA - Educação de jovens e adultos. Fotos: CANINDE SOARES, GILVAN BARRETO, LU SOARES, LUIS MORAES, MARCUS ANTONIUS, P.O. NETO, ROGERIO ALBUQUERQUE, TATIANA REISEJA - Educação de jovens e adultos. Fotos: CANINDE SOARES, GILVAN BARRETO, LU SOARES, LUIS MORAES, MARCUS ANTONIUS, P.O. NETO, ROGERIO ALBUQUERQUE, TATIANA REIS
(http://revistaescola.abril.com.br/eja/)

Cerca de 4,5 milhões de brasileiros com mais de 15 anos estão matriculados na Alfabetização ou na Educação de Jovens e Adultos, segundo o Censo Escolar 2009 do MEC. No entanto, apenas 1,5% das disciplinas do currículo de Pedagogia abordam o assunto.

                                                                                                                 Simone Aires

O trabalho pedagógico para a efetiva aprendizagem

Autoras[2]: Ana Carolina Corradi
Eliana Ferreira de Oliveira Maioli
Fabiana Rodrigues de Souza
Maria José Tortella Baião
Mércia Aparecida Vianna Galavotti
Priscilla Willik Valenti
EJA – São Carlos

            As professoras da EJA: Ana Carolina Corradi, Fabiana Rodrigues de Souza, Maria José Tortella Baião, Mércia Aparecida Vianna Galavotti, Priscilla Willik Valenti e eu, Eliana Ferreira de Oliveira Maioli, pesquisamos algumas informações das salas entre os nossos alunos e elaboramos esse texto. Vamos falar um pouquinho do perfil dos educandos das séries iniciais da EJA, das causas que os levaram a voltar a estudar, das dificuldades que eles enfrentam e da escola. A Fabiana inicia a fala, depois eu concluo.
            Bom dia a todos e a todas que estão aqui presentes. Este artigo foi elaborado durante a ACIEPE[3] de Aprendizagem Dialógica de que estamos participando aqui na Universidade Federal. A atividade envolve inclusão digital, aprendizagem dialógica, matemática, tertúlia literária, são vários eixos.
            Vou começar falando de um breve perfil dos educandos da EJA de São Carlos. Diante das falas das educadoras, percebemos que o perfil dos educandos é muito parecido, não só aqui em São Carlos, mas em Ribeirão também.
            O primeiro aspecto que se apresenta em comum é a migração. A maioria dos nossos educandos é migrante. Os que moram atualmente em São Carlos vieram das regiões Nordeste, Sudeste, Centro-Oeste e Sul. São poucos os alunos que vieram da região Norte.          
            O segundo aspecto se refere à ocupação que eles exercem. Geralmente são empregados em serviços informais. Mas há aqueles que exercem funções como pedreiro ou serviços gerais e, ainda, os que são comerciantes em papelaria, bar ou outro comércio. As mulheres trabalham como empregadas domésticas ou babás.


[1] Conferência transcrita por Mariana Lucrécia Trevisan e por Ana Paula Rodrigues da Silva.
[2] Professoras da Educação de Jovens e Adultos da cidade de São Carlos
[3] ACIEPE: Atividade Curricular de Integração entre Ensino, Pesquisa e Extensão, criada pelas Pró-Reitorias da Universidade Federal de São Carlos. É uma disciplina que permite a matrícula de estudantes de graduação e de pós-graduação da UFSCar, bem como de pessoas externas à Universidade. A ACIEPE a que a educadora faz menção é intitulada "Aprendizagem Dialógica na Educação de Pessoas Jovens e Adultas", oferecida todos os semestres, sob responsabilidade da Profa. Dra. Roseli Rodrigues de Mello e do Prof. Dr. Paulo Eduardo Gomes Bento. Maiores informações no site da UFSCar.
            O terceiro aspecto diz respeito às suas residências, estas se localizam próximas às escolas onde estudam, o que representa um fator facilitador para eles voltarem a estudar.    
            O quarto aspecto considera que a aprendizagem não é homogênea e nós, educadoras, temos que saber trabalhar os diferentes ritmos de aprendizagem. Essa diferença entre os alunos contribui para a ajuda mútua. Os alunos que aprendem com mais facilidade ou que estão num ritmo mais adiantado costumam auxiliar os outros educandos que estão começando agora.

            Vou falar agora sobre alguns motivos que levaram os alunos a interromperem o processo educativo. O motivo mais apontado por eles foi a necessidade de trabalhar diante da dificuldade financeira da família.
            Outro fator – mais específico das mulheres – é a questão delas terem que ficar em casa cuidando dos afazeres domésticos e da família, o que fez com elas não pudessem ter freqüentado a escola quando mais jovens ou mesmo na infância. A esse fator se acrescenta a questão de gênero, quando alguns pais não consideravam importante que as filhas estudassem. Por esta razão, os homens estudaram e as mulheres não tiveram esse direito.
            Os alunos apontaram a distância das escolas em relação às residências na zona rural como outro fator que os levaram a abandonar os estudos na infância. Era preciso fazer uma caminhada muito longa, já que não tinha transporte.
            Alguns alunos citaram as diversas reprovações como decisão para abandonar a escola. Freqüentavam a escola, mas por alguns problemas acabavam reprovando e deixaram as escolas por isso. Esse motivo se apresenta bastante com os alunos mais jovens, os adolescentes, que aparecem nas salas de EJA.

            Na seqüência, vou falar sobre alguns motivos que levaram os alunos a voltarem a estudar. Os alunos falam que voltar a estudar representa a realização de um sonho pessoal, já que é a continuidade de um processo interrompido, refletido nos fatores que foram enumerados anteriormente.
            A busca por um emprego melhor foi um fator muito apontado pelos educandos trabalhadores. Eles alegaram que há uma exigência muito grande do mercado de trabalho para que eles tenham uma certa escolaridade. Então eles retornam às salas de EJA, buscando dar continuidade à sua escolaridade.
            Outros alunos falam do desejo de ter a carteira de habilitação, a carteira de motorista.
            Outros fatores citados foram: necessidade de ampliar a habilidade de cálculo para fazer as compras do dia-a-dia; vontade de escrever um bilhete ou uma carta para pessoas conhecidas ou familiares que moram distantes, já que são migrantes e sempre tem família em outros estados; necessidade de melhorar a escrita e ampliar os conhecimentos do dia-a-dia, tanto práticos como teóricos.
            Este último resume um pouco o porquê deles voltarem a estudar, juntamente com o incentivo dos familiares.

            Agora, vou falar um pouco sobre a escola e as dificuldades encontradas pelos educandos nessa volta à escola e que também são dificuldades para nós educadoras, porque temos que pensar em estratégias para solucionar essas dificuldades. Citarei algumas que são mais centrais, mais freqüentes.
            Uma das grandes dificuldades que se apresenta aos alunos trabalhadores é a falta de flexibilidade de horário na EJA em São Carlos. Como exercem trabalhos informais, não há um horário fixo de trabalho. Às vezes, o aluno precisa sair mais cedo da aula para poder fazer algum trabalho, às vezes tem que chegar um pouco mais tarde (meia hora depois) e se a escola não tiver uma flexibilidade, o aluno acaba abandonando a sala de aula.
            O pessoal da Secretaria de Educação tem orientado para a flexibilidade, apesar de não estar previsto na legislação, devido ao excesso de faltas, o que pode reprovar o aluno. E ele sabe disso, então resolve abandonar a escola. A falta de flexibilidade dificulta o processo educativo.
            Alguns alunos se queixam da falta de apoio familiar. Algumas mulheres falam que os maridos não gostam que elas freqüentem as aulas sozinhas, razão delas terem de levar um filho junto nas aulas.
            Outro problema é a auto-exclusão. Por estes alunos já terem interiorizado a visão sobre o analfabetismo do nosso país, acreditam que não vão conseguir aprender.
            Outras são dificuldades específicas da aquisição da língua escrita. A dificuldade de pontuar textos, questões relativas à ortografia e às marcas da oralidade. Nós educadoras temos que saber lidar com essas questões, sem tratar isso apenas como erro, de forma a não contribuir para a auto-exclusão, senão o aluno acaba perdendo a vontade de produzir os próprios textos.
            Outras dificuldades se referem às questões físicas como, problemas de visão para enxergar o que está escrito na lousa ou enxergar os textos impressos, o que depende do tamanho da letra que é utilizado, ou mesmo da fonte; dificuldade em audição; problemas de dicção e problemas de verbalizar as idéias.
É importante oferecer oportunidades para que os alunos possam expressar o que eles pensam, expressar seus conhecimentos, já que alguns alunos são muito tímidos pelas vivências anteriores e têm dificuldade de falar o que pensam, não só os alunos, nós também professores.
            Outro grande problema é a questão do sono. Como são alunos que trabalham muito cedo, alguns acordam às 5h da manhã e às 10h da noite estão assistindo aula, o sono leva-os aos cochilos. Nós professoras temos que driblar o sono que é uma questão física mesmo, não tem como evitar.

            Vou falar de algumas estratégias desenvolvidas nas nossas salas de aula para driblar essas dificuldades. Uma das estratégias é, justamente, a flexibilidade do horário escolar. Temos pensado, mas ainda não temos soluções definitivas. Outra estratégia é fazer revisões freqüentes dos conteúdos, já que uma única explicação sobre o mesmo conteúdo não significa que todo mundo vai estar sabendo no dia seguinte. Há que se retomar inúmeras vezes.
            Os trabalhos em grupos têm sido positivos porque é nesse tipo de trabalho que os alunos vão desenvolvendo a capacidade de verbalizarem as suas idéias, suas opiniões e, também, seus sentimentos, além de contribuir para a socialização do aluno dentro da escola. Alguns alunos que passaram muito tempo sem estudar sentem dificuldade de se relacionar com outros alunos dentro da escola. Eles acabam vendo a escola como um espaço estranho. Essas atividades em grupo quebram um pouco essa estranheza em relação à escola.
            Em relação à aquisição da língua escrita, uma das atividades que tem dado certo é a produção de textos coletivos, em que a professora vai à lousa e elabora um texto coletivo a partir das idéias apontadas pelos educandos, pelos alunos.
Os alunos que já estão no Termo II fazem produções espontâneas de textos. O aluno pensa sobre uma temática do cotidiano dele e tenta desenvolver um texto da forma como ele sabe. Nós usamos esse texto para ensinar outras formas de produção de texto, pontuação, ortografia e, ainda, para auxiliar na produção da sala toda.
            Outra estratégia é a leitura e a discussão de textos significativos. O que seriam textos significativos? Textos que trazem temáticas relacionadas à vida do nosso educando, ao cotidiano dele. Textos que são escolhidos por eles mesmos ou relacionados às temáticas apontadas por eles.
Além dessas atividades que estão sendo satisfatórias, há outras questões que poderiam ser consideradas pelos professores e pela escola.
Uma delas diz respeito a um espaço para plantão de dúvidas em outros horários para que os alunos pudessem ir e tirar suas dúvidas, mas esse espaço acaba sendo a sala de aula.
Outra questão é a interpretação do erro. Valorizar os alunos não apenas quanto aos acertos, mas usar o erro como uma estratégia para que ele possa fazer aprendizagens futuras. Não deixar os erros passarem em branco, provocar, no aluno, uma reflexão sobre o que errou de modo que use esse erro como um possível acerto futuro.
            Desenvolver atividades que promovam a auto-estima, valorizar o aluno, os acertos dele e as contribuições que ele oferece ao processo. Como as professoras do MOVA[1] falaram, as professoras aprendem muito e, às vezes, até mais com eles do que eles com a gente.
           
Observações finais
A convivência com os alunos mostrou que há necessidade de dialogar com eles e trazê-los, cada vez mais, para o processo educativo. Esta prática tende a romper com aquilo que Ana Maria Freire, na palestra de abertura, chamou de educação bancária, que é a concepção de que o aluno está na sala de aula para receber o conhecimento que os educadores têm.
 A idéia é chamar os alunos para participarem do processo educativo e do planejamento, para que eles digam as questões que consideram mais importantes, as temáticas que querem discutir e usar essas temáticas para a alfabetização.
Desta forma, evitaremos cair no ensino da palavra escrita. Como o próprio Paulo Freire disse: alfabetizar não é só ensinar a sílaba, a frase; alfabetizar é pensar junto com os alunos, é tentar ler o mundo. Fazer com que os alunos aprendam a leitura da palavra é fundamental porque eles vão à escola para aprender isso, mas que essa leitura não se resuma só à palavra, que se estenda a uma leitura mais ampla, à leitura do mundo, do cotidiano deles e do nosso também. Afinal estamos todos inseridos na mesma realidade.
            Antes da citação final, quero colocar uma observação pensada entre nós a partir das discussões realizadas ao longo da ACIEPE: “Acreditamos que nenhuma prática educativa se faz sem dificuldades e obstáculos a serem vencidos, tanto por parte dos educandos como dos educadores. A superação dessas barreiras só é possível a partir da constante reflexão, do diálogo e da busca pela valorização de nossa prática”.
            A citação final é de Paulo Freire: “Quanto mais penso sobre a prática educativa, reconhecendo a responsabilidade que ela exige de nós (nós, no caso, os professores), tanto mais me convenço do dever nosso de lutar no sentido de que essa seja realmente respeitada. O respeito que devemos como professores aos educandos dificilmente se cumpre se não somos tratados com dignidade e decência pela administração privada ou pública da educação”.
            Nesse sentido, queremos deixar um agradecimento pela abertura à nossa participação nesse congresso. Referindo-me a Ana Maria Freire novamente: “participar não é apenas estar de corpo presente, participar é ter direito de falar a nossa palavra, dizer a nossa palavra”. E achamos que, nesse evento, estamos tendo esse direito.


[1] Movimento de Alfabetização, criado durante a gestão de Paulo Freire na Secretaria Municipal de Educação da cidade de São Paulo e desenvolvido por um movimento nacional que atualmente o difunde e apóia. A Secretaria Municipal de Educação e Cultura de São Carlos o encampou desde 2003.
                                                                                                                              
                                                                                                                                   Simone Aires                    

O discurso do educador com os alunos da EJA

Sandra Medrano, coordenadora pedagógica do Centro de Educação e Documentação para Ação Comunitária (Cedac), explica qual deve ser a postura do educador da EJA diante dos alunos resistentes às novas práticas de ensino.

                                                                                                                                  Simone Aires