sábado, 18 de junho de 2011


                                       
Conferência inaugural do IX Encontro nacional de Educação de Jovens e Adultos - ENEJA, realizado em setembro de 2007, em Curitiba-Faxinal do Céu/PR. Texto l Slides Autoria: Maria Margarida Machado - UFG.
                 SIMONE AIRES

Alunos do EJA fazem poesia coletiva.

Cerca de 26 alunos do Programa EJA (Educação de Jovens e Adultos) que estão cursando o Termo II (3ª e 4ª séries do Ensino Fundamental), na turma B, desenvolveram no início deste mês uma atividade de reflexão em sala de aula. Como produto desse aprendizado, eles fizeram uma poesia em conjunto.
A reflexão foi proposta pela professora Nilva Aparecida Pizólio, que a partir da leitura da poesia “Quem tem medo de dizer não” da autora Ruth Rocha, elaborou um trabalho coletivo, no qual os alunos iam contando suas experiências de vida diante de algumas respostas e suas conseqüências.
“A partir da poesia, eles refletiram sobre a importância de dizer ‘sim’ e ‘não’ no momento oportuno. Contaram situações vividas em que se arrependeram de dizer ‘sim’ e outras em que o ‘não’ resolveu muitos problemas”, contou a professora.
Segundo explicou a coordenadora do EJA, Suzana Palmira Ferracine Escardoveli, com base na poesia estudada e nas experiências contadas pelos alunos, a classe decidiu então fazer o seu próprio poema: “Dizer sim, dizer não...”.

Questões sociais:
Suzana destaca que a poesia elaborada pelos alunos enfoca a realidade do povo brasileiro e aborda algumas questões sociais que geram polêmicas como a política, corrupção, tráfico de drogas, religião e família.
Conforme conta a coordenadora, a experiência como poetas não parou na sala de aula. O aluno Jair Ferreira Brito se inspirou no poema coletivo e resolveu fazer um por conta própria, que recebeu o nome de “Oportunidade???”.
“Como percebemos que os alunos gostaram muito dessa atividade e a partir daí começaram a produzir diversos poemas, resolvemos criar um livro com todas as poesias feitas por eles. O livro será feito no final do ano letivo com participação de todos”, adianta a coordenadora Suzana Escardoveli.

Confira as poesias feitas pelos alunos do EJA:

Dizer sim, dizer não...

Muitos brasileiros na Eleição

Tem medo de dizer não
São enganados pelos políticos
E depois vem a corrupção
Se todos pensassem bem
Não existiria político ladrão.

O que pensam os jovens de hoje
Que não sabem para as drogas
Dizer simplesmente não
Seria tudo diferente
Se cada um tivesse religião
Do contrário, o fim é trágico
Podendo acabar numa prisão.

Hoje em dia está difícil
Educar dizendo não
Especialmente entre as famílias
Onde há separação
Pai e mãe, cada uma para um lado
E filhos amargurados.

Como seria bom,
Se em toda família
Existisse união.

(Poesia Coletiva - Termo II-Turma B)


Oportunidade???


Estou vendo a nossa Nação
se perdendo para as coisas
ruins da vida: bebidas,
drogas, roubos e prostituição.
Espero que nossas autoridades
entendam a falta de oportunidade
das pessoas, principalmente nas cidades.
Espero que nossos parlamentares
Presidente, prefeito e vereadores
aos jovens dêem a oportunidades
para tirá-los do mundo do crime
e da marginalidade.

(autor: Jair Ferreira Brito)


http://www.penapolis.sp.gov.br/template.php?pagina=neocast/read.php&id=385&page=505&section=1

Letícia Rocha

Alunos da EJA método Paulo Freire

Letícia Rocha

segunda-feira, 13 de junho de 2011

LIVROS PAULO FREIRE DIGITALIZADOS

http://forumeja.org.br/livrospaulofreire

Neste Link encontramos diversas obras de Paulo Freire digitalizadas que podemos ter acesso. Dentre as obras PEDAGOGIA DA AUTONOMIA, PEDAGOGIA DO OPRIMIDO, A IMPORTÂNCIA DO ATO DE LER, EDUCAÇÃO COMO PRÁTICA DA LIBERDADE, AÇÃO CULTURAL PARA A LIBERDADE, EXTENSÃO OU COMUNICAÇÃO, MEDO E OUSADIA e PROFESSORA SIM, TIA NÃO.

Aproveitem é só clicar e conferir!

ALINE MELLO

CIDADÃO NOTA DEZ - EXPERIÊNCIA FORMAÇÃO DE PROFESSORES EJA


ALINE MELLO

REVISTA PARA EJA - EDUCAR

http://issuu.com/mariananiederauer/docs/revista_educar

Aqui posto um link de uma revista com relatos da EJA, ações de deram certo, problemáticas...
REVISTA EDUCAR!

ALINE MELLO

SETE LIÇÕES SOBRE EDUCAÇÃO DE ADULTOS - ÁLVARO VIEIRA PINTO

Neste livro realizado por Álvaro Vieira Pinto enquanto estava exilado  no Chile traça importantes considerações sobre o ensino da Educação de Jovens e Adultos. Segundo o mesmo
                                            O caminho que o professor escolher para aprender foi ensinar. No ato 
                                            do  ensino ele se defronta com as verdadeiras dificuldades, obstáculos reais,
                                            concretos, que precisa superar. Nessa situação ele aprende. (2001, p. 21)
1ª LIÇÃO CONCEITO DE EDUCAÇÃO:
Educação com espaço restrito e amplo. É o processo pelo qual a sociedade forma seus membros à sua imagem e em função de seus interesses. Compreende educação como processo, fato existencial, fato social, fenômeno cultural, educação como privilégio, fundamento, atividade teológica, trabalho social, ordem consciente, processo exponencial, concreta, contraditória.

2ª LIÇÃO FORMA E CONTEÚDO DA EDUCAÇÃO:
Conteúdo ingênuo definido como totalidade dos conhecimentos que se transmitem do professor ao aluno. Disciplinas, currículo do curso, aquele que enche as lições e são objeto da aprendizagem.
Questões primordiais: A QUEM EDUCAR? QUEM EDUCAR? COM QUE FINS? COM QUE MEIOS?

3ª LIÇÃO AS CONCEPÇÕES INGÊNUA E CRÍTICA DA EDUCAÇÃO:
Consciência Ingênua não inclui em sua representação da realidade exterior e de si mesma a compreensão das condições e determinantes que a fazem pensar tal como pensa.
Consciência Crítica representação mental do mundo exterior e de si, acompanhada da clara percepção dos condicionamentos objetivos que a fazem ter tal representação.

4ª LIÇÃO EDUCAÇÃO INFANTIL E EDUCAÇÃO DE ADULTOS:
Diferem em vários pontos seja na continuidade de formação dos indíviduos; capacidade do adulto trabalhar; grau de desenvolvimento fisiologico e psicológico do homem; o pensar em concreto; noção de escola; alfabetização do adulto como processo pedagógico qualitativamente; métodos, técnicas, motivos, interesses que a sociedade tem com o educando; aquilo que o educando sabe;

5ª LIÇÃO ESTUDO PARTICULAR DO PROBLEMA DA EDUCAÇÃO DE ADULTOS
A realidade social do adulto, sua qualidade de trabalhador e o conjunto de conhecimentos básicos que pressupõe. O adulto é o homem na fase mais rica de sua existência (2001, p. 79) É urgente encarar o adulto como sabedor, perceber que o desenvolvimento fundamental do homem é de natureza social, perceber a evolução de suas faculdades, reconhecer o adulto como membro atuante e pensante de sua comunidade.

6ª LIÇÃO O PROBLEMA DA ALFABETIZAÇÃO
Não devemos conceber o aluno analfabeto como apenas aquele que não sabe ler. Mas sim aquele que por suas condições de existência não necessitou ler. É preciso produzir mudanças na consciência do educando e ver o analfabeto como ser humano, não pela perspectiva do analfabetismo e sim pela constituição do sujeito.

7ª LIÇÃO A FORMAÇÃO DO EDUCADOR
Pela concepção ingênua acredita-se que o esforço principal da educação deve consistir em retirar o aluno e principalmente o aluno que se prepara para ser professor, das influências do meio e capacita-lo somente para a instução técnica e desempenho de funções. Pela concepção crítica sabe-se que não haverá verdadeira função do professor senão mediante a intensificação das influências sociais e a compreensão cada vez mais clara que o educador tenha de que sua atividade é social. Influir sobre os acontecimentos em curso no seu meio e só pode ser valiosa se ele admite ser conscientemente participante desses acontecimentos. Cada educador tem o seu papel ditado pela sociedade. O educador deve compreender que a foente de sua aprendizagem, de sua formação, é sempre a sociedade. O educador na EJA precisa ser crítico e acompanhar a marcha das transformações.
É importante ter sensibilidade aos estíumlos intelectuais, mas é sobretudo a consciência de sua natureza inconclusa como sabedor. Conservar fiel às inspirações de seu povo.
                                                 [...] no processo de educação não há uma desigualdade essencial entre dois
                                                 seres, mais um encontro amistoso pelo qual um e outro se educam
                                                 reciprocamente. (2001,118)
                                                                                                                        ALINE MELLO

AVANÇOS E DESAFIOS NA EJA

Continuação dos estudos, sem restrição da Educação de Jovens e Adultos em apenas alfabetizar;
Construção do currículo focado na centralidade do sujeito, reconhecimento e legitimação de saberes não escolares; Existe aprendizagem fora da escola?
Descentralização. Autonomia do gestor local?
Presença de Organizações Não Governamentais. Retomada de políticas assistencialistas e compensatórias?

VISÕES DO ALUNO DA EJA EM DISPUTA

Visão de atividades infantilizadoras, humanizadora, emancipatória, restrita a força de trabalho.

CONCEPÇÕES DA EJA EM DISPUTA
  1. CUNHO ASSISTENCIALISTA - EJA como promessa de inclusão social;
  2. VISÃO COMPENSATÓRIA - cursos ou projetos. Rápidos para compensar o tempo perdido
  3. FUNÇÃO REPARADORA - dívida social do estado com o público sem condições de estudar. Educação como direito social de todos.
                                                                                        ALINE MELLO

História da EJA no Brasil - VANILDA PAIVA

Até 1930 - até esta data a Educação dos adultos não era vista como uma questão específica da Educação Popular (para o povo).
1930 - Experiência no Distrito Federal chama atenção para a especificidade do ensino supletivo. O índice de analfabetismo é de 82% no país e se percebe a especificidade de ensinar adultos de forma diferenciada. Acontece uma iniciativa pública com o ensino acelerado para compensar o tempo perdido. Há um foco nos "tempos de aprender e de trabalhar"
1932 a 1937 - Matrículas crescem de 49132 para 120826 no Brasil;
ESTADO NOVO - CENSO de 1940 alerta para 55% de analfabetos com 18 anos ou mais. Estes dados impulsionam a conformação de políticas específicas para a área. Cria-se o SISTEMA S e o objetivo do ensino é sanar as necessidades de profissionalização para as empresas;
1946 a 1958 - iniciativas do Governo com a Campanha de Alfabetização. E a cada novo governo mudam as propostas e as campanhas como forma de manutenção do poder e manter o status quo. Tais estratégias não visam perspectivas de futuro escolar aos alunos.
1958 a 1964 - 2º Congresso Nacional de Educação de Adultos - Novas Diretrizes para a educação de adultos. Crescem as iniciativas comunitárias e populares.
1964 a 1985 - movimentos ficam clandestinos. Em 1970, surge o Movimento Brasil Alfabetizado MOBRAL, com abrangência Nacional mas com resultados polêmicos. A LDB 5992/71 institui ensino supletivo mais rápido com caráter compensatório.
1983 a 2003 - fim do Mobral. As políticas de governo priorizam ensino aos adultos com ênfase na alfabetização. Busca-se iniciativas progressistas em escolas públicas.
1996 - LDB 9394/96 para EJA, autoriza exames de verificação.
ENCEJA provas que equivalem ao ensino.
2003 - abandono do Alfabetização Solidária que vira uma ONG
2005 - PROEJA (ocorre em institutos federais promovendo uma integração profissional) E PROJOVEM (18 a 24 anos ocorre em instituições parceiras entre secretarias e é mais precário)
                                                                                                                          ALINE MELLO

Qual é a diferença entre a alfabetização de crianças e a de Jovens e Adultos?


Os processos de aprendizagem

            Milhões de jovens e adultos não puderam se escolarizar na infância ou adolescência. Os motivos de não terem estudado são vários e relacionados a questões de ordem social, econômica e política. Se, por um lado, os números do analfabetismo dão a dimensão do desafio educacional brasileiro, por outro, dizem muito pouco sobre essas pessoas: como vivem, o que sabem, o que é para elas ler e escrever, o que querem aprender.
            Apesar de não dominarem a escrita, criam alternativas para lidar com essa linguagem no dia-a-dia. Ocupam papéis sociais distintos e paticipam de atividades culturais diversas das de crianças.
            Diferenciam-se em relação a ciclos de vida, identidades, disposições e necessidades de aprendizagens, assim como nas representações sobre ler e escrever, nos conhecimentos e nas habilidades desenvolvidas. Portam bagagens culturais diversas que influenciam no modo como se engajam na alfabetização.
            Muito de suas aprendizagens se deu âmbitos distintos da escola, com outras finalidades, rotinas, dispositivos, organizações e relações de poder, Para muitos deles, ensinar e aprender é parte do fazer, em aprendizagens que se dão de modo coletivo, mediadas pela oralidade e observação, para responder a questões imediatas. Portanto, para planejar, refletir ou agir, desenvolveram ferramentas diferentes das de que passou pela escola, e lançarão mão delas para se alfabetizarem.
            É próprio da alfabetização de jovens e adultos o reposicionamento de si mesmos. Antes vistos como analfabetos, pela falta de conhecimentos e familiaridade com a escrita, serão convidados a ler e escrever, a compartilhar saberes, a refletir sobre como se aprende e a cooperar. Poderão ter reconhecimento social diferentes, ocupar outras posições em ventos de letramento e práticas de escrita e maior acesso a bens culturais.
            Na alfabetização de jovens e adultos, os conteúdos e abordagens metodológicas ancoram-se nos sujeitos que dela tomam parte. Assim, é preciso ter a curiosidade de descobrir o que sabem, ouvir suas histórias, identificar seus desafios, suas formas de pensar e refletir, observar o que os mobiliza.

Cláudia Vóvio – Assessora do Programa de Educação de Jovens e Adultos da ONG Ação Educativa 

Manuella Valim

domingo, 12 de junho de 2011

A identidade dos alunos/as da Eja

Pesquisando procurei em vários sites acadêmicos que pudessem responder alguns entre muitos questionamentos sobre os alunos/as da EJA encontrei no portal do MEC "caderno Eja 1", onde traz informações, estratégias e procedimentos que possam ajudar os educadores a conhecer melhor esses sujeitos.
SECAD apresenta a coleção Trabalhando com a Educação de Jovens e Adultos, composta de cinco cadernos temáticos. O material  trata    de  situações concretas, familiares aos   professores/as, Permite  a visualização de modelos que podem   ser comparados com   suas práticas, a partir das quais  são ampliadas as questões teóricas.(...)(p.01)
                  .
                                                 
Ha  varias questões que abordam o perfil dos sujeitos da educação jovem e adultos, tais como: qual a pratica para ensinar esses sujeitos, de onde vem esses sujeitos,porque procuram o curso,o que buscam saber,do que já sabem em sua experiências de vida,o que ainda não sabem,suas relações com a realidade letrada, onde vivem,qual o seu espaço na sociedade.
Ha varia formas/caminhos de chegar ao saber com esses sujeitos da Eja.

Olhar, escutar, tocar,  cheirar   saborear  são aberturas  para nosso. Mundo interior ler e declamar  poesia, escutar música, ilustrar textos com desenho e colagens, jogar,  dramatizar histórias, conversar   sobre pintura e fotografias são algumas atividades que favorecem o  despertar desse saber sensível.(p.07)
                       PDF] (EJA CADERNO 1 GRÕFICA - MEC


(...)as escolas para jovens e adultos recebem alunos e      alunas com traços de vida, origens, idades, vivências profissionai , históricos escolares,ritmos de aprendizagem e estruturas pensamento     completamente avariados. a cada realidade corresponde um tipo de aluno e não  poderia ser de  outra forma, são pessoas que vivem no mundo adulto do trabalho, com responsabilidades sociais e familiares, com valores formados a partir da experiência, do ambiente e da realidade cultural éticos morais que são inseridos.(p.04)
                

Esses recortes nos mostram algumas abordagens que encontrei no caderno da EJA procurando o saber a respeitos desses    sujeitos/jovem/adultos, achei importante entre outros que poderá ler acessando o endereço,   responde a  questionamento. O caderno da EJA nos mostra semelhança entre esses sujeitos     de varias   regiões do Brasil, porém, com a mesma busca, desafios e com dificuldades sócio   econômica    que leva essa procura  do saber fora de uma idade considerada regular/própria.   Retorna aos estudos pra essas pessoas depois de adultas após passarem anos longe da escola, ou até daqueles que inicia a vida escolar nessa fase da vida, é bastante peculiar.
Protagonizam histórias reais e ricas em experiências vividas.
                                                                                                      Simone Aires

sábado, 11 de junho de 2011

Alguns pontos sobre o universo cultural dos alunos da EJA

Os excertos que apresento a seguir são de um texto que produzi no “Estágio e Pesquisa: Educação do Trabalhador/EJA”, atividade acadêmica do curso de Pedagogia da UNISINOS a qual estou cursando este semestre (2011/1). A partir dos textos que lidos e da pesquisa realizada em uma turma de alfabetização (observação e entrevistas), aponto algumas considerações a serem feitas por pedagogos/as que atuam e/ou atuarão na EJA.
O objetivo de conhecer os sujeitos da EJA é dar-lhes a palavra e não tentar conhecê-los pelo que os outros dizem sobre eles, mas devemos saber o que eles mesmos têm a dizer, contar o que pensam e sabem. Permitir que digam quem são é fundamental ao invés de dar credibilidade apenas ao que os outros dizem sobre quem são os adultos da EJA, pois “[...] quem tem o poder de narrar o outro, dizendo como está constituído, como funciona, que atributos possui, é quem dá as cartas da representação, ou seja, é quem estabelece o que tem ou não estatuto de ‘realidade’”. (COSTA, 1998, p. 42). Então é imprescindível conhecer a realidade que eles mostram ao invés de optar pelas representações que trazem sobre este adulto.
            Ao chegar a idade de 6 anos (que antigamente era 7 anos) a criança, normalmente, já é inserida no ambiente escolar: aprende a ler, escrever e fazer contas, pensando que o futuro estará preparado para ela com uma boa profissão, caso estude. Então ela permanece na escola até os 17 para completar o ensino médio. Claro que, isto pode ser um processo normal para a maioria, mas a generalização é impossível, pois uma série de fatores faz com que determinados sujeitos sejam excluídos, desde as condições em que vivem até a estrutura familiar. No caso dos adultos que estão na EJA, a história foi diferente e seguiu outro percurso e agora por diversos motivos pessoais eles entram na escola para aprender e ter a oportunidade que não tiveram antes. Costa (1998) justifica como esses mecanismos acontecem na escola, usando como referência Foucault:

[...] o currículo escolar é um texto que pode nos contar muitas histórias: histórias sobre indivíduos, grupos, sociedades, culturas, tradições; histórias que pretendem nos relatar como as coisas são ou como deveriam ser. O que há de comum entre elas é uma vontade de saber que, como assinala Foucault (1996), é inseparável da vontade de poder, e tem se constituído em ‘prodigiosa maquinaria destinada a excluir’ (p. 20). (p. 61)

A partir do levantamento de dados dos sujeitos é possível ver a marca de não alfabetizados que carregam em sua constituição e suas histórias de exclusão que fazem lembrá-los todos os dias quem são e o porquê têm acesso limitado e dificuldade de adquirirem determinados bens. O contexto atual mostra a responsabilidade do/a professor/a não apenas ensinar, mas perceber quem são os sujeitos e de que lugares falam. Planejar aulas que considere suas culturas e que traga além do conhecimento, questionamentos e os dê a possibilidade de um olhar crítico diante da realidade social, promovendo a autonomia dos mesmos - não só como alfabetizados/as, mas como um cidadãos/ãs pensantes. Corazza (1997) aponta que a além dos conhecimentos escolares, a pedagogia como uma prática cultural que analisa não apenas as lutas de classe, mas um novo cenário, ao qual estamos inseridos atualmente:

Agora, dentro de novas paisagens culturais, econômicas, políticas e sociais, a teorização social pós-estruturalista/pós-modernista vem desdobrar nossas responsabilidades intelectuais e arenas de lutas políticas, levando-nos a significar fortemente a pedagogia como uma prática de produção cultural, não mais implicada apenas na luta de classes, como também em tantas outras lutas, como as de raça, gênero, diferenças sexuais, identidades nacionais, colonialismo, etnia, populismo cultural, textualidade. (p. 105)


REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:

CORAZZA, Sandra. Planejamento de Ensino como estratégia de política cultural. In: MOREIRA, Antonio flavio B. (org.) currículo: questões atuais. campinas, sp: papirus, 1997. p. 103 – 143.

COSTA, Marisa C. Vorraber. Currículo e política cultural. In: COSTA, Marisa C. Vorraber (org.) O currículo nos limiares do contemporâneo. Rio de Janeiro: DP&A, 1998.

Camila Chagas

sexta-feira, 10 de junho de 2011

PEDAGOGIA pelo Mestre Paulo Freire

Neste vídeo temos a explanação de Paulo Freire, sobre o que é a Pedagogia e no que ela deve se sustentar. É uma pena que só encontrei este vídeo em espanhol, mas com a legenda é possível entender o que nosso mestre Paulo Freire nos passa. Fala da importância de compreender o ato de ensinar e aprender, de ensinar através do exemplo... vale a pena assistir!!!!
                                                                                    Aline Mello

LEGISLAÇÃO X EJA

LDB 9394/96
Seção V
Da Educação de Jovens e Adultos
Art. 37. A educação de jovens e adultos será destinada àqueles que não tiveram acesso ou continuidade de estudos no ensino fundamental e médio na idade própria. (grifo meu)
§ 1º Os sistemas de ensino assegurarão gratuitamente aos jovens e aos adultos, que não puderam efetuar os estudos na idade regular, oportunidades educacionais apropriadas, consideradas as características do alunado, seus interesses, condições de vida e de trabalho, mediante cursos e exames.
§ 2º O Poder Público viabilizará e estimulará o acesso e a permanência do trabalhador na escola, mediante ações integradas e complementares entre si.
§ 3o  A educação de jovens e adultos deverá articular-se, preferencialmente, com a educação profissional, na forma do regulamento. (Incluído pela Lei nº 11.741, de 2008)
Art. 38. Os sistemas de ensino manterão cursos e exames supletivos, que compreenderão a base nacional comum do currículo, habilitando ao prosseguimento de estudos em caráter regular.
§ 1º Os exames a que se refere este artigo realizar-se-ão:
I - no nível de conclusão do ensino fundamental, para os maiores de quinze anos;
II - no nível de conclusão do ensino médio, para os maiores de dezoito anos.
§ 2º Os conhecimentos e habilidades adquiridos pelos educandos por meios informais serão aferidos e reconhecidos mediante exames.


Nas Leis de Diretrizes e Bases que dispõem sobre a EJA podemos observar a menção a uma idade própria para  conclusão dos estudos em um discurso que pode contribuir para a exclusão e excesso de expectativas do alunado. Percebemos também a menção as condições apropriadas de educação para este público considerando as questões de vida e seus interesses. Todos os professores que atuam hoje na EJA, possuem claramente esta "informação"?
                                                                                                                                                                     Aline Mello

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Quem são os adultos da EJA

A realidade dos jovens e adultos, principalmente os adultos nas classes de alfabetização na EJA, é a de exclusão. E as suas histórias sobre o que os impossibilitou de estudar na infância são muito similares: ajudar em casa e/ou contribuir financeiramente com o sustento da família. A maioria desses sujeitos são marcados pelo trabalho infantil, as meninas principalmente, que não ajudavam com trabalho remunerado, tinham o dever de fazer as tarefas de casa e cuidar dos irmãos mais novos, pois os pais trabalhavam. Armellini (1993), evidencia que:  
A história da exclusão social se repete na história da escolarização dos adultos analfabetos. Não permaneceram na escola por motivos sócio-econômicos e culturais, ou seja, necessidade de trabalhar e contribuir para o sustento da família, assumir o trabalho doméstico, ajudar a cuidar dos irmãos mais jovens ou tornar-se ‘arrimo’ da família, desistindo de estudar em favor dos irmãos mais moços, ou porque os pais não achavam necessário o estudo, especialmente para as mulheres. (p. 30)

            A partir da experiência através do estágio que realizei esse semestre, percebi também que é muito comum os adultos que foram excluídos da escola por não serem ditos “normais”, como os que possuem dificuldade de aprendizagem.
            O caso de dona Benta é similar, mas o proibição veio de uma visão machista do pai que temia as cartas de amor com os rapazes. Ao tornar-se adulta se dedicou a família e a casa, e com 85 anos que voltou a estudar. Isso nos remete ao questionamento de quantas mulheres estão na EJA e têm marido e filhos para cuidar, que dividem seu tempo ao lar, trabalho e estudos. Isso quando não acontecem imprevistos no dia-a-dia. Então a questão de retornar a escola, apesar do seu formato específico para alunos adultos, é uma decisão que não depende apenas de esforço, mas de condições para conseguir estar na sala de aula.

Na vida do adulto analfabeto, tão limitada pelos baixos salários ou renda instável, os compromissos de sustento e cuidado da família terminam por absorver todos os recursos pessoais. A falta de dinheiro para o transporte, a doença de um filho, o nascimento de um neto, novas oportunidades de trabalho e de remuneração complementar, mudança de residência, podem constituir sérios obstáculos para a permanência do adulto na classe de alfabetização. (ARMELLINI, 1993, p. 30)

            Sem dúvida, a história de vida da dona Benta é de superação e persistência. E ao ser lida ou ouvida pelos alunos da classe de EJA, ao qual realizei minha prática pedagógica, os motivou mais ainda. Mas nós professoras e professores temos que ter bem claro que não depende apenas da vontade dos sujeitos, mas de uma série de fatores que possibilitem a ida a escola, a construção do conhecimento e a conquista dos objetivos destes alunos.

REFERÊNCIA:

ARMELLINI, Neusa Junqueira, ET. Alli. (orgs.) Alfabetização de adultos: recuperando a totalidade para reconstruir a especificidade. Porto Alegre: Editora da UFRGS, Edições EST, 1993. p. 25-53. (Cap. III).

GERAL. Nunca é tarde: A lição de dona Benta. In: Zero Hora, 26 de abril de 2011, p. 31.


Camila Chagas

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Livro: Formação de Professores para Educação de Jovens e Adultos

O livro “Formação de Professores para Educação de Jovens e Adultos” escrito por Valdo Barcelos, traz como tema principal da obra a reflexão sobre o ser professor (a) na Educação de Jovens e Adultos, em particular a Alfabetização.
Como já dei aula na alfabetização de adultos, optei em ler este livro para fazer uma ficha de leitura no PA de Educação e Trabalho do curso de Pedagogia na Unisinos e confesso que me identifiquei muito com a obra, pois nos aproxima sobre a verdadeira realidade que nos deparamos no dia-a-dia da sala de aula na EJA – alfabetização.
Gostaria de trazer aqui alguns trechos da minha ficha de leitura e também do livro para quem tiver interesse em ler.
O autor traz a expressão menestrel “que aqui uso é uma analogia ao poeta, ao cantador ou trovador nômade plebeu, que Antigamente, no período medievo, perambulava pelas praças e ruas das antigas cidades recitando seus poemas ou fazendo serenatas a serviço de um rei ou de uma corte de nobres”. (BARCELOS, 2006, p.79)
            Esses menestréis, usado nos Estados Unidos como um artista popular que deve encantar as famílias nobres, o que na educação é exigido dos educadores, encantarem os alunos.
            O autor compartilha neste livro alguns pontos em ordem alfabética que é necessário para formação e do trabalho de educadores de jovens e adultos em particular a alfabetização.
            “Atenção – Há que dedicarmos muita atenção aos saberes e fazeres que cada educando (a) traz consigo para o interior da escola, da sala de aula...” (BARCELOS, 2006, p.83)
            “Busca – Se todo o fazer educativo é uma busca permanente, a EJA exige uma revitalização desta a cada dia, a cada hora, a cada minuto...” (BARCELOS, 2006, p.84)
            “Cuidado – Assim como a tenção, é necessário termos muito cuidado com a EJA. E cuidado aqui no sentido de incentivar no educador(a) desde o cuidado de si até o cuidado com o outro...” (BARCELOS, 2006, p.84)
            “Dedicação – Se no processo educativo em geral a dedicação profissional é um dos fatores decisivos para a formação de professores(as), na EJA em particular, esta dedicação se faz necessária com a maior radicalidade. E dedicação tanto efetiva, técnica, quanto afetiva e humanística...” (BARCELOS, 2006, p.85)
            “Escuta – Mais que simplesmente ouvir, há que escutar – do latim auscultare, que significa estar alerta, atento, disposto ao diálogo com o outro...” (BARCELOS, 2006, p.85)
            “Felicidade – ...amor, carinho, sedução, paixão, prazer, felicidade. Refiro-me tanto à felicidade de aprender quanto a de ensinar... (BARCELOS, 2006, p.86)
            “Gente – Na EJA, ao contrário da alfabetização de crianças, estamos frente ao que chamamos comumente de “Gente Grande”. Isto pode parecer uma obviedade, mas não é. Gente grande no sentido de que estamos recebendo na escola homens e mulheres adultos. Que trabalham ou estão desempregados(as). Que têm filhos(as), e às vezes netos(as). Enfim, que têm já uma longa vida vivida...” (BARCELOS, 2006, p.86)
            “Humildade – Se a humildade é um valor, uma exigência para a educação em seus mais diferentes níveis e processos, na Educação de Jovens e Adultos isto se torna uma condição indispensável. E humildade tanto no sentido da relação entre pessoas que estão começando a se conhecer quanto ao que se refere às relações entre educador(a) e educando(a)...” (BARCELOS, 2006, p.87 e 88)
            “Incentivo – ...um dos maiores desafios para a EJA é não apenas incentivas a chegada do educando(a) à escola como, a partir daí, incentivar sua permanência...” (BARCELOS, 2006, p.89)
            “Justiça – ...a EJA pode ser uma maneira a mais de fazermos um pouco de justiça ao imenso contingente de homens e mulheres que neste país forma alijados do processo educativo...” (BARCELOS, 2006, p.89)
            “Ludicidade – ...no entanto, se a educação é, por excelência, o tempo da imaginação, os seres humanos são imaginativos durante todas as etapas de sua vida...” (BARCELOS, 2006, p.90)
            “Mudança – Falar de mudança em educação é como falar que somos seres vivos e, como tal, estamos em permanente metamorfose, Contudo, mais que falar, pensar e programar mudanças, há que acreditar nelas”. (BARCELOS, 2006, p.91)
            “Necessidade – O trabalho docente, ou como diria Miguel Arroyo O Ofício de mestre, carrega consigo algumas necessidades básicas e permanentes. Uma delas é a da formação continuada e/ ou permanente...” (BARCELOS, 2006, p.91)
            “Organização – ... as ditas “grades” curriculares começam a ser questionadas e, em  alguns casos, já começaram a ruir. Talvez uma das grandes contribuições da EJA, para a educação escolar, esteja justamente na demonstração da impossibilidade da atual organização...” (BARCELOS, 2006, p.93)
            “Participação – Se existe algo que começa a se estabelecer como o consenso entre os(as) educadores(as) da EJA é o da necessidade de envolvimento, de participação de todas as partes envolvidas no processo – professores(as), equipes diretivas e educandos(as)...” (BARCELOS, 2006, p.94)
            “Querer – Se é pertinente a afirmação de que só aprende quem que, nada mais oportuno que levar isto muito a sério quando se trata do trabalho com a Educação de Jovens e Adultos. O querer aprender é algo que, muito frequentemente, está estampado no olhar, no rosto, no sorriso tímido e acanhado...” (BARCELOS, 2006, p.95)
            “Reinventar – Inventar e reinventar. Isto talvez seja o que todo(a) educador da EJA mais tenha que fazer. Reinventar práticas pedagógicas, didáticas e metodológicas de atuação junto aos educandos e educandas...” (BARCELOS, 2006, p.95)
            “Sabedoria – Na Educação de Jovens e Adultos é fundamental que tenhamos sensibilidade para perceber que estamos frente a grupos que são portadores de imenso repertório de saberes. São grupos carregados de sabedoria.” (BARCELOS, 2006, p.96)
            “Tensão – ...além das tensões habituais, rotineiras do trabalho de professor(a)... o trabalho com jovens e adultos exige uma esforço ainda maior. Esforço este que vai desde o fato de estarmos frente a uma turma de educandos(as) que, via de regra, já vêm para aula noturna cansados(as)...” (BARCELOS, 2006, p.96)
            “Urgência – Urgência e urgências é o que não faltam se formos olhar para a educação brasileira em geral e para a educação inclusiva em particular... para usar um reforço lingüístico”. (BARCELOS, 2006, p.97)
            “Valores – ...cabe lembrar que valores não se ensinam, como muito bem alerta Humberto Maturana... Neste sentido é que se insiste, em educação, na construção de espaços democráticos e libertários de convivência de valores...” (BARCELOS, 2006, p.98)
            “Xeque-mate – ... nos colocar numa posição de xeque-mate. Ou seja: como no jogo de xadrez, coloca-nos numa situação-limite. Ou encontrarmos uma saída para esta imensa injustiça social que é a exclusão da escola de milhares de pessoas...” (BARCELOS, 2006, p.99)
            “Zelo – ... ao mesmo tempo em que estamos à procura de alternativas que melhorem nossa EJA temos que ter o maior cuidado, temos de zelar para não sucumbirmos à tentação da adoção de receitas e respostas prontas...” (BARCELOS, 2006, p.99)
            Após o autor falar sobre esses pontos para formação, ele ressalta que isso não seja visto como uma cartilha, mas que pode ser a composição das poesias e versos dos(as) menestréis da Educação de Jovens e Adultos.


BARCELOS, Valdo. Formação de Professores para Educação de Jovens e Adultos. Editora Vozes, 2006.

Manuella Valim.

domingo, 29 de maio de 2011

Pergunta sem Resposta

SE NÃO FALTAM ALUNOS - 58 MILHÕES DE BRASILEIROS COM MAIS DE 18 ANOS NÃO TEM O ENSINO FUNDAMENTAL - , POR QUE AS MATRÍCULAS NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS (EJA) CAÍRAM 15% DESDE 2007?

                                                                                                                                Aline Mello

sábado, 21 de maio de 2011

EJA - Educação de Jovens e Adultos


EJA - Educação de jovens e adultos. Fotos: CANINDE SOARES, GILVAN BARRETO, LU SOARES, LUIS MORAES, MARCUS ANTONIUS, P.O. NETO, ROGERIO ALBUQUERQUE, TATIANA REISEJA - Educação de jovens e adultos. Fotos: CANINDE SOARES, GILVAN BARRETO, LU SOARES, LUIS MORAES, MARCUS ANTONIUS, P.O. NETO, ROGERIO ALBUQUERQUE, TATIANA REISEJA - Educação de jovens e adultos. Fotos: CANINDE SOARES, GILVAN BARRETO, LU SOARES, LUIS MORAES, MARCUS ANTONIUS, P.O. NETO, ROGERIO ALBUQUERQUE, TATIANA REISEJA - Educação de jovens e adultos. Fotos: CANINDE SOARES, GILVAN BARRETO, LU SOARES, LUIS MORAES, MARCUS ANTONIUS, P.O. NETO, ROGERIO ALBUQUERQUE, TATIANA REISEJA - Educação de jovens e adultos. Fotos: CANINDE SOARES, GILVAN BARRETO, LU SOARES, LUIS MORAES, MARCUS ANTONIUS, P.O. NETO, ROGERIO ALBUQUERQUE, TATIANA REISEJA - Educação de jovens e adultos. Fotos: CANINDE SOARES, GILVAN BARRETO, LU SOARES, LUIS MORAES, MARCUS ANTONIUS, P.O. NETO, ROGERIO ALBUQUERQUE, TATIANA REISEJA - Educação de jovens e adultos. Fotos: CANINDE SOARES, GILVAN BARRETO, LU SOARES, LUIS MORAES, MARCUS ANTONIUS, P.O. NETO, ROGERIO ALBUQUERQUE, TATIANA REISEJA - Educação de jovens e adultos. Fotos: CANINDE SOARES, GILVAN BARRETO, LU SOARES, LUIS MORAES, MARCUS ANTONIUS, P.O. NETO, ROGERIO ALBUQUERQUE, TATIANA REISEJA - Educação de jovens e adultos. Fotos: CANINDE SOARES, GILVAN BARRETO, LU SOARES, LUIS MORAES, MARCUS ANTONIUS, P.O. NETO, ROGERIO ALBUQUERQUE, TATIANA REISEJA - Educação de jovens e adultos. Fotos: CANINDE SOARES, GILVAN BARRETO, LU SOARES, LUIS MORAES, MARCUS ANTONIUS, P.O. NETO, ROGERIO ALBUQUERQUE, TATIANA REISEJA - Educação de jovens e adultos. Fotos: CANINDE SOARES, GILVAN BARRETO, LU SOARES, LUIS MORAES, MARCUS ANTONIUS, P.O. NETO, ROGERIO ALBUQUERQUE, TATIANA REISEJA - Educação de jovens e adultos. Fotos: CANINDE SOARES, GILVAN BARRETO, LU SOARES, LUIS MORAES, MARCUS ANTONIUS, P.O. NETO, ROGERIO ALBUQUERQUE, TATIANA REISEJA - Educação de jovens e adultos. Fotos: CANINDE SOARES, GILVAN BARRETO, LU SOARES, LUIS MORAES, MARCUS ANTONIUS, P.O. NETO, ROGERIO ALBUQUERQUE, TATIANA REISEJA - Educação de jovens e adultos. Fotos: CANINDE SOARES, GILVAN BARRETO, LU SOARES, LUIS MORAES, MARCUS ANTONIUS, P.O. NETO, ROGERIO ALBUQUERQUE, TATIANA REISEJA - Educação de jovens e adultos. Fotos: CANINDE SOARES, GILVAN BARRETO, LU SOARES, LUIS MORAES, MARCUS ANTONIUS, P.O. NETO, ROGERIO ALBUQUERQUE, TATIANA REISEJA - Educação de jovens e adultos. Fotos: CANINDE SOARES, GILVAN BARRETO, LU SOARES, LUIS MORAES, MARCUS ANTONIUS, P.O. NETO, ROGERIO ALBUQUERQUE, TATIANA REIS
(http://revistaescola.abril.com.br/eja/)

Cerca de 4,5 milhões de brasileiros com mais de 15 anos estão matriculados na Alfabetização ou na Educação de Jovens e Adultos, segundo o Censo Escolar 2009 do MEC. No entanto, apenas 1,5% das disciplinas do currículo de Pedagogia abordam o assunto.

                                                                                                                 Simone Aires

O trabalho pedagógico para a efetiva aprendizagem

Autoras[2]: Ana Carolina Corradi
Eliana Ferreira de Oliveira Maioli
Fabiana Rodrigues de Souza
Maria José Tortella Baião
Mércia Aparecida Vianna Galavotti
Priscilla Willik Valenti
EJA – São Carlos

            As professoras da EJA: Ana Carolina Corradi, Fabiana Rodrigues de Souza, Maria José Tortella Baião, Mércia Aparecida Vianna Galavotti, Priscilla Willik Valenti e eu, Eliana Ferreira de Oliveira Maioli, pesquisamos algumas informações das salas entre os nossos alunos e elaboramos esse texto. Vamos falar um pouquinho do perfil dos educandos das séries iniciais da EJA, das causas que os levaram a voltar a estudar, das dificuldades que eles enfrentam e da escola. A Fabiana inicia a fala, depois eu concluo.
            Bom dia a todos e a todas que estão aqui presentes. Este artigo foi elaborado durante a ACIEPE[3] de Aprendizagem Dialógica de que estamos participando aqui na Universidade Federal. A atividade envolve inclusão digital, aprendizagem dialógica, matemática, tertúlia literária, são vários eixos.
            Vou começar falando de um breve perfil dos educandos da EJA de São Carlos. Diante das falas das educadoras, percebemos que o perfil dos educandos é muito parecido, não só aqui em São Carlos, mas em Ribeirão também.
            O primeiro aspecto que se apresenta em comum é a migração. A maioria dos nossos educandos é migrante. Os que moram atualmente em São Carlos vieram das regiões Nordeste, Sudeste, Centro-Oeste e Sul. São poucos os alunos que vieram da região Norte.          
            O segundo aspecto se refere à ocupação que eles exercem. Geralmente são empregados em serviços informais. Mas há aqueles que exercem funções como pedreiro ou serviços gerais e, ainda, os que são comerciantes em papelaria, bar ou outro comércio. As mulheres trabalham como empregadas domésticas ou babás.


[1] Conferência transcrita por Mariana Lucrécia Trevisan e por Ana Paula Rodrigues da Silva.
[2] Professoras da Educação de Jovens e Adultos da cidade de São Carlos
[3] ACIEPE: Atividade Curricular de Integração entre Ensino, Pesquisa e Extensão, criada pelas Pró-Reitorias da Universidade Federal de São Carlos. É uma disciplina que permite a matrícula de estudantes de graduação e de pós-graduação da UFSCar, bem como de pessoas externas à Universidade. A ACIEPE a que a educadora faz menção é intitulada "Aprendizagem Dialógica na Educação de Pessoas Jovens e Adultas", oferecida todos os semestres, sob responsabilidade da Profa. Dra. Roseli Rodrigues de Mello e do Prof. Dr. Paulo Eduardo Gomes Bento. Maiores informações no site da UFSCar.
            O terceiro aspecto diz respeito às suas residências, estas se localizam próximas às escolas onde estudam, o que representa um fator facilitador para eles voltarem a estudar.    
            O quarto aspecto considera que a aprendizagem não é homogênea e nós, educadoras, temos que saber trabalhar os diferentes ritmos de aprendizagem. Essa diferença entre os alunos contribui para a ajuda mútua. Os alunos que aprendem com mais facilidade ou que estão num ritmo mais adiantado costumam auxiliar os outros educandos que estão começando agora.

            Vou falar agora sobre alguns motivos que levaram os alunos a interromperem o processo educativo. O motivo mais apontado por eles foi a necessidade de trabalhar diante da dificuldade financeira da família.
            Outro fator – mais específico das mulheres – é a questão delas terem que ficar em casa cuidando dos afazeres domésticos e da família, o que fez com elas não pudessem ter freqüentado a escola quando mais jovens ou mesmo na infância. A esse fator se acrescenta a questão de gênero, quando alguns pais não consideravam importante que as filhas estudassem. Por esta razão, os homens estudaram e as mulheres não tiveram esse direito.
            Os alunos apontaram a distância das escolas em relação às residências na zona rural como outro fator que os levaram a abandonar os estudos na infância. Era preciso fazer uma caminhada muito longa, já que não tinha transporte.
            Alguns alunos citaram as diversas reprovações como decisão para abandonar a escola. Freqüentavam a escola, mas por alguns problemas acabavam reprovando e deixaram as escolas por isso. Esse motivo se apresenta bastante com os alunos mais jovens, os adolescentes, que aparecem nas salas de EJA.

            Na seqüência, vou falar sobre alguns motivos que levaram os alunos a voltarem a estudar. Os alunos falam que voltar a estudar representa a realização de um sonho pessoal, já que é a continuidade de um processo interrompido, refletido nos fatores que foram enumerados anteriormente.
            A busca por um emprego melhor foi um fator muito apontado pelos educandos trabalhadores. Eles alegaram que há uma exigência muito grande do mercado de trabalho para que eles tenham uma certa escolaridade. Então eles retornam às salas de EJA, buscando dar continuidade à sua escolaridade.
            Outros alunos falam do desejo de ter a carteira de habilitação, a carteira de motorista.
            Outros fatores citados foram: necessidade de ampliar a habilidade de cálculo para fazer as compras do dia-a-dia; vontade de escrever um bilhete ou uma carta para pessoas conhecidas ou familiares que moram distantes, já que são migrantes e sempre tem família em outros estados; necessidade de melhorar a escrita e ampliar os conhecimentos do dia-a-dia, tanto práticos como teóricos.
            Este último resume um pouco o porquê deles voltarem a estudar, juntamente com o incentivo dos familiares.

            Agora, vou falar um pouco sobre a escola e as dificuldades encontradas pelos educandos nessa volta à escola e que também são dificuldades para nós educadoras, porque temos que pensar em estratégias para solucionar essas dificuldades. Citarei algumas que são mais centrais, mais freqüentes.
            Uma das grandes dificuldades que se apresenta aos alunos trabalhadores é a falta de flexibilidade de horário na EJA em São Carlos. Como exercem trabalhos informais, não há um horário fixo de trabalho. Às vezes, o aluno precisa sair mais cedo da aula para poder fazer algum trabalho, às vezes tem que chegar um pouco mais tarde (meia hora depois) e se a escola não tiver uma flexibilidade, o aluno acaba abandonando a sala de aula.
            O pessoal da Secretaria de Educação tem orientado para a flexibilidade, apesar de não estar previsto na legislação, devido ao excesso de faltas, o que pode reprovar o aluno. E ele sabe disso, então resolve abandonar a escola. A falta de flexibilidade dificulta o processo educativo.
            Alguns alunos se queixam da falta de apoio familiar. Algumas mulheres falam que os maridos não gostam que elas freqüentem as aulas sozinhas, razão delas terem de levar um filho junto nas aulas.
            Outro problema é a auto-exclusão. Por estes alunos já terem interiorizado a visão sobre o analfabetismo do nosso país, acreditam que não vão conseguir aprender.
            Outras são dificuldades específicas da aquisição da língua escrita. A dificuldade de pontuar textos, questões relativas à ortografia e às marcas da oralidade. Nós educadoras temos que saber lidar com essas questões, sem tratar isso apenas como erro, de forma a não contribuir para a auto-exclusão, senão o aluno acaba perdendo a vontade de produzir os próprios textos.
            Outras dificuldades se referem às questões físicas como, problemas de visão para enxergar o que está escrito na lousa ou enxergar os textos impressos, o que depende do tamanho da letra que é utilizado, ou mesmo da fonte; dificuldade em audição; problemas de dicção e problemas de verbalizar as idéias.
É importante oferecer oportunidades para que os alunos possam expressar o que eles pensam, expressar seus conhecimentos, já que alguns alunos são muito tímidos pelas vivências anteriores e têm dificuldade de falar o que pensam, não só os alunos, nós também professores.
            Outro grande problema é a questão do sono. Como são alunos que trabalham muito cedo, alguns acordam às 5h da manhã e às 10h da noite estão assistindo aula, o sono leva-os aos cochilos. Nós professoras temos que driblar o sono que é uma questão física mesmo, não tem como evitar.

            Vou falar de algumas estratégias desenvolvidas nas nossas salas de aula para driblar essas dificuldades. Uma das estratégias é, justamente, a flexibilidade do horário escolar. Temos pensado, mas ainda não temos soluções definitivas. Outra estratégia é fazer revisões freqüentes dos conteúdos, já que uma única explicação sobre o mesmo conteúdo não significa que todo mundo vai estar sabendo no dia seguinte. Há que se retomar inúmeras vezes.
            Os trabalhos em grupos têm sido positivos porque é nesse tipo de trabalho que os alunos vão desenvolvendo a capacidade de verbalizarem as suas idéias, suas opiniões e, também, seus sentimentos, além de contribuir para a socialização do aluno dentro da escola. Alguns alunos que passaram muito tempo sem estudar sentem dificuldade de se relacionar com outros alunos dentro da escola. Eles acabam vendo a escola como um espaço estranho. Essas atividades em grupo quebram um pouco essa estranheza em relação à escola.
            Em relação à aquisição da língua escrita, uma das atividades que tem dado certo é a produção de textos coletivos, em que a professora vai à lousa e elabora um texto coletivo a partir das idéias apontadas pelos educandos, pelos alunos.
Os alunos que já estão no Termo II fazem produções espontâneas de textos. O aluno pensa sobre uma temática do cotidiano dele e tenta desenvolver um texto da forma como ele sabe. Nós usamos esse texto para ensinar outras formas de produção de texto, pontuação, ortografia e, ainda, para auxiliar na produção da sala toda.
            Outra estratégia é a leitura e a discussão de textos significativos. O que seriam textos significativos? Textos que trazem temáticas relacionadas à vida do nosso educando, ao cotidiano dele. Textos que são escolhidos por eles mesmos ou relacionados às temáticas apontadas por eles.
Além dessas atividades que estão sendo satisfatórias, há outras questões que poderiam ser consideradas pelos professores e pela escola.
Uma delas diz respeito a um espaço para plantão de dúvidas em outros horários para que os alunos pudessem ir e tirar suas dúvidas, mas esse espaço acaba sendo a sala de aula.
Outra questão é a interpretação do erro. Valorizar os alunos não apenas quanto aos acertos, mas usar o erro como uma estratégia para que ele possa fazer aprendizagens futuras. Não deixar os erros passarem em branco, provocar, no aluno, uma reflexão sobre o que errou de modo que use esse erro como um possível acerto futuro.
            Desenvolver atividades que promovam a auto-estima, valorizar o aluno, os acertos dele e as contribuições que ele oferece ao processo. Como as professoras do MOVA[1] falaram, as professoras aprendem muito e, às vezes, até mais com eles do que eles com a gente.
           
Observações finais
A convivência com os alunos mostrou que há necessidade de dialogar com eles e trazê-los, cada vez mais, para o processo educativo. Esta prática tende a romper com aquilo que Ana Maria Freire, na palestra de abertura, chamou de educação bancária, que é a concepção de que o aluno está na sala de aula para receber o conhecimento que os educadores têm.
 A idéia é chamar os alunos para participarem do processo educativo e do planejamento, para que eles digam as questões que consideram mais importantes, as temáticas que querem discutir e usar essas temáticas para a alfabetização.
Desta forma, evitaremos cair no ensino da palavra escrita. Como o próprio Paulo Freire disse: alfabetizar não é só ensinar a sílaba, a frase; alfabetizar é pensar junto com os alunos, é tentar ler o mundo. Fazer com que os alunos aprendam a leitura da palavra é fundamental porque eles vão à escola para aprender isso, mas que essa leitura não se resuma só à palavra, que se estenda a uma leitura mais ampla, à leitura do mundo, do cotidiano deles e do nosso também. Afinal estamos todos inseridos na mesma realidade.
            Antes da citação final, quero colocar uma observação pensada entre nós a partir das discussões realizadas ao longo da ACIEPE: “Acreditamos que nenhuma prática educativa se faz sem dificuldades e obstáculos a serem vencidos, tanto por parte dos educandos como dos educadores. A superação dessas barreiras só é possível a partir da constante reflexão, do diálogo e da busca pela valorização de nossa prática”.
            A citação final é de Paulo Freire: “Quanto mais penso sobre a prática educativa, reconhecendo a responsabilidade que ela exige de nós (nós, no caso, os professores), tanto mais me convenço do dever nosso de lutar no sentido de que essa seja realmente respeitada. O respeito que devemos como professores aos educandos dificilmente se cumpre se não somos tratados com dignidade e decência pela administração privada ou pública da educação”.
            Nesse sentido, queremos deixar um agradecimento pela abertura à nossa participação nesse congresso. Referindo-me a Ana Maria Freire novamente: “participar não é apenas estar de corpo presente, participar é ter direito de falar a nossa palavra, dizer a nossa palavra”. E achamos que, nesse evento, estamos tendo esse direito.


[1] Movimento de Alfabetização, criado durante a gestão de Paulo Freire na Secretaria Municipal de Educação da cidade de São Paulo e desenvolvido por um movimento nacional que atualmente o difunde e apóia. A Secretaria Municipal de Educação e Cultura de São Carlos o encampou desde 2003.
                                                                                                                              
                                                                                                                                   Simone Aires